Para viver em São Paulo sem carro, é preciso vontade


Por Thalita Freitas

Estudos, livros, depoimentos. Uma junção de informações prova que: para viver em São Paulo sem usar carro, basta vontade. E aqui não falamos apenas de vontade da população em abandonar os automóveis na garagem, mas dos governantes em investir em estruturas que permitam que o trânsito de pedestres, transporte público e as vias para bicicletas, sejam, de fato, melhoradas.

Alexandre Frankel

Alexandre Lafer Frankel é o idealizador do livro “Como Viver em São Paulo Sem Carro”. Como CEO da Incorporadora Vitacon, sua estratégia empresarial está baseada na mobilidade urbana. Ou seja, com prédios próximos a centros comerciais, estações de metrô e com serviços de bicicletário – tudo para incentivar que o morador/trabalhador use menos o carro no seu dia a dia. Ele mesmo não possui carro, percorre seus caminhos a pé e, como conta ainda que só renovou sua habilitação por conta do nascimento de seu bebê, pois vê a necessidade de ter, também, esta opção para transporte quando se tem uma criança.

A primeira edição do livro, de 2012, conta com personagens como: Gilberto Dimenstein, Mathew Shirts, Jana rosa, Milton Jung, Maria Adelaide Amaral, Pedro José de Carvalho, Rita Lobo, Tadeu Jungle, Raí, Vanessa Barbara, Cândido Malta, Sérgio Kalil. Já a segunda, do ano passado, traz o depoimento de: Andrea Leal, André Farkas, Angelo Leite, Daniel Guth, Felipe Barroso, Georgia Halal, Guto Carvalho, Humberto Campana, José Luiz Portella, José Police Neto, Marcio Nigro (que aparecerá logo mais aqui), Maria Tereza Cruz, Miriam Homem de Melo, Nathalia Rodrigues, Paulo Saldiva e Renata Falzoni.

A nossa São Paulo

Em entrevista exclusiva ao Portal VGV, Alexandre nos contou um pouco mais sobre o que o leva a pensar em uma São Paulo sem carro. “Acredito que em pleno 2014 é inviável e contra produtivo ter um carro em uma cidade tão grande”, frisa ele, explicando que “segundo uma pesquisa do Ipespe (Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas) em 2013, 57% dos paulistanos entrevistados deixaram de usar o automóvel como principal forma de locomoção nos últimos anos, sendo que 19% abandonaram totalmente e 38% restringiram o uso aos finais de semana”. Além disto é importante explicar que na pesquisa os paulistanos apontaram que o trânsito é a maior causa de infelicidade e estresse. “Eu mesmo abandonei o carro há 10 anos e, desde então, apenas uso táxi em momentos excepcionais, mas sou grande entusiasta da bicicleta como meio de locomoção – principalmente com a implementação de ciclovias por todas as principais regiões de São Paulo”, comenta.



Como viver em São Paulo sem carro

O livro


Mas incorporar todas as formas possíveis de facilitação no transporte apenas nos empreendimentos que concebe não foi o suficiente para Alexandre. A decisão de criar a série de livros Como Viver em São Paulo Sem Carro veio com a possibilidade que os depoimentos de pessoas com a mesma visão que ele apresentaram. “O livro teve um forte alcance e acredito que, se pelo menos uma pessoa abandonou o uso do carro após a leitura, é uma vitória” diz.
Além disto, Alexandre explica que tem visto que “as novas gerações estão muito focadas em mobilidade urbana, ninguém mais quer ficar parado cinco horas diárias no trânsito, de manhã, à tarde e à noite. Todo esse tempo pode ser reaproveitado com trabalho, lazer, família”.

E como viver sem o carro e sem transtornos?

Uma iniciativa que demonstra o poder do “viver em São Paulo sem carro” é o Caronetas. Criado por Márcio Nigro, o projeto tem duas vertentes: a corporativa e a individual. A primeira é feita com o cadastro das empresas. Hoje o Caronetas tem mais de 1.800 empresas cadastradas, que, com esta ação, facilitam a ida e volta de seus funcionários até a empresa e para casa, com opções como: as caronas de carro, a divisão de táxis ou mesmo a criação de grupos de bike – onde as pessoas se organizam para percorrerem os trajetos juntas, diminuindo o perigo do translado.

Portal do Caronetas

O Caronetas ainda apresenta alguns dados que explicam a importância de sua implantação, como, por exemplo, a posição do Brasil no ranking sobre o uso de carros. O Brasil está na 61ª colocação, sendo que possui 0,246 carros por habitante – em comparação aos Estados Unidos, que ocupam a 3ª posição, com 0,8 carros por habitante.
Mas as explicações vão ainda mais longe, ressaltando que hoje em dia o valor dos estacionamentos está cada dia mais caro e sem limite para este aumento. A quantidade de carbono expelida por carros ou ônibus também é preocupante, além do fato de que o trânsito está a cada dia mais caótico.

E o que isto interessa ao mercado imobiliário?

Mas em resumo, entende-se que falta investimento, tanto público quanto privado, em melhorar a forma como nos locomovemos pela cidade. O Brasil tem aproximadamente 203 milhões de pessoas – segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Apenas São Paulo tem mais de 11 milhões desses habitantes. Se contarmos que temos 5.041.312 veículos, é muito mais do que nossas ruas comportam.

Já para o mercado imobiliário, ficar atento a este movimento da sociedade é de suma importância, principalmente com a aprovação do novo Plano Diretor. Com ele espera-se que tenhamos menos vagas de garagem, levando em consideração que em determinadas regiões, apartamentos que optarem por mais de uma vaga para carro, poderão ter de pagar um valor a mais, a taxa de construção – e em regiões o espaço da vaga poderá contar como metragem do apartamento.

Com isto as construtoras e incorporadoras precisam se adaptar às novas medidas e ter em mente que o principal conceito é o de incentivo ao uso de transportes públicos e não maiores gastos para os compradores/moradores. Desenvolver produtos que equilibrem as necessidades da sociedade, se adequem à Lei, que sejam acessíveis para os futuros compradores e, ainda por cima, sejam rentáveis para as incorporadoras, com certa é o grande desafio que o mercado imobiliário terá para os próximos anos.

Comentários

  1. Excelente reportagem. Se mais pessoas tivessem esta consciência, São Paulo seria uma cidade muito melhor em todos os sentidos.


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